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Sobre a pesquisa IPESPE


Por Antonio Lavareda

1. O que é mais importante agora, a um ano do pleito? Boa parte do público, dos analistas, dos veículos de imprensa e até mesmo dos políticos, ao analisar os resultados das várias pesquisas, pensando na eleição presidencial de 2022, dispensa maior atenção aos números das “intenções de voto” dos candidatos do que às variáveis, aos fatores, capazes de afetá-las e explicá-las. E que, portanto, merecem ser acompanhadas de perto.

2. De olho no triângulo das bermudas. Os modelos preditivos de eleições presidenciais sempre incorporaram (a) a dimensão econômica, o que foi popularizado com a expressão terminativa do consultor James Carville, - “ It’s the economy,stupid!”. Mas nem tudo se resume a ela. Os mais parcimoniosos prognósticos acrescentam (b) a “aprovação geral do governo”. E, nesses tempos extraordinários, é indispensável adicionarmos uma outra, (c) a avaliação do combate à pandemia - o equivalente à apreciação pela sociedade do desempenho dos governos nas guerras e conflitos travados antes ou durante os pleitos. O Vietnã inviabilizou Lyndon Johnson. O Irã foi bola de chumbo para Carter. O Iraque ajudou a reeleger George W. Bush.

3. Entre 2020 e 2022 as eleições acontecem dentro desse triângulo. Em todo o mundo, as eleições nacionais desde o início da crise sanitária foram ou serão definidas a partir dos seus vértices. Saindo-se a contento, os incumbentes navegarão a salvo. Estão reeleitos ou elegerão seus candidatos. Caso contrário, terão sido ou serão sugados por ele. Quem pensar que domingo passado a Alemanha de Merkel escapou à regra, esqueça. Olaf Sholz, líder do vitorioso SPD, não disputou na “oposição”. Ministro das Finanças, ele se apresentou na campanha como verdadeiro sucessor da Chanceler.

4. Para a grande maioria (64%) a economia segue na contramão. Discordam dessa opinião e consideram que ela está “no rumo certo” 27% dos entrevistados. O saldo negativo ficando em -37 pontos. É um intervalo muito grande. Não precisa ser dito que, para o projeto de reeleição, reverter esses números é imprescindível. O governo sabe disso e aposta nos efeitos do programa Auxílio Brasil, prometido para novembro. Mas tem pela frente o desafio das projeções declinantes do PIB, o descontrole da inflação e a elevada taxa de desemprego.

5. Desaprovação ao governo (64%) oscilou, mantendo-se no maior patamar. Em sentido contrário, 30% aprovam a maneira como o presidente governa o país. No mês passado eram 63% versus 29%. O mesmo saldo negativo de -34 pontos.  Esta questão, uma das mais utilizadas internacionalmente, começou a ser formulada, nos EUA, nos anos 30s do século passado, por George Gallup. Com o atual formato (“O (a) Sr. (a) aprova ou desaprova o modo como o presidente XXX vem governando o país?”) tem se mostrado uma excelente medida síntese, captando de forma dicotômica as opiniões e sentimentos públicos sobre os governantes, ajudando a discernir com mais clareza os dois campos - o favorável e o desfavorável. O reflexo disso nas urnas é conhecido. A insuficiente aprovação média de Trump ao longo do mandato (41%) foi decisiva para obstacular a reeleição.

6. Mantém-se elevada (58%) a reprovação na guerra à Covid-19. Os que classificam como ótima ou boa a atuação específica da União no enfrentamento à pandemia somam 22%. Esse julgamento severo é parametrizado pela avaliação positiva dos entes sub nacionais, que continuam se saindo melhor que o Governo Federal aos olhos da opinião pública nesse quesito. 43% avaliam como “ótima” ou “boa” e apenas 22% como “ruim” ou “péssima” a atuação dos governadores, enquanto que os prefeitos obtêm 52% e 14%, respectivamente. Uma outra componente importante dessa equação é a CPI do Senado. Tema que não foi abordado dessa vez.

7. Setembro, politicamente agitado, terminou com intenções de voto em repouso. Uma vez levadas em conta as mudanças na composição das duas listas testadas, bem como as margens de erro, o quadro de preferências captado pela pesquisa praticamente não se alterou em relação ao mês anterior. O ex-presidente Lula segue liderando as intenções de voto na questão espontânea (30%) e nos dois cenários de primeiro turno (42% e 43%), vindo na segunda colocação Jair Bolsonaro - na espontânea (23%); na Lista 1 (25%); na Lista 2 (28%). Na hipótese de segundo turno, Lula venceria Bolsonaro por 50% a 31%, placar semelhante ao de agosto. Os resultados dos demais candidatos também não apresentaram alterações significativas. Ao que parece, somada a repercussão dos três fatos que marcaram setembro (manifestações pró Bolsonaro do dia 7, Carta à Nação do dia 9, e manifestações anti Bolsonaro do dia 12), o saldo líquido resultante parece ter sido próximo a zero no terreno eleitoral. Os ponteiros pouco ou nada se mexeram. Ficando as eventuais sequelas aparentemente reservadas à esfera político institucional.

8. O centro se fragmenta ainda mais, antes de se unir? Nos últimos levantamentos, foram incluídos novos nomes, na condição de representantes do autodenominado “centro democrático”. Há outros que ficaram de fora. Esse aumento do número de postulantes é sintoma de uma avaliação pelos políticos de que teria crescido o espaço para uma “terceira via” competitiva. Pode ser verdade. Mas, paradoxalmente, com a aglomeração, também se torna menos provável um deles sobressair nas pesquisas. E, sem isso, será mais difícil o trabalho posterior de articulação de uma coalizão em torno desse (a) candidato (a).

*Cientista político e presidente do conselho científico do Ipespe

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