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Paulo Freire, 100 anos em 10 parágrafos


Foto: João Pires – Estadão

Paulo Reglus Neves Freire nasceu às 9h do dia 19 de setembro de 1921, uma segunda-feira, na Estrada do Encantamento, 724, bairro Casa Amarela, Recife (PE). Filho do natalense Joaquim Themístocles Freire, militar do exército e depois da Polícia Militar recifense, e de Edeltrudes Neves Freire, Dona Tudinha, Paulo foi o caçula de quatro. Antes tinham nascido Stela, Armando e Temístocles. 

Até os 11 anos, Paulo viveu bem, quando precisou se mudar para Jaboatão dos Guararapes, na grande Recife, devido a problemas financeiros ocasionados pela doença do pai, que precisou se aposentar, morrendo poucos anos depois. A partir daí, a vida de sua família foi marcada por muitas dificuldades. No livro Cartas para Cristina — reflexões sobre minha vida e minha práxis (Editora UNESP, 2003), organizado por Ana Maria Araújo e Nita Freire, sua última esposa, Freire conta os sofrimentos que enfrentou, incluindo o atravessamento de muita fome.

Começou a ser alfabetizado em casa, tendo como primeira mestra dona Amália Costa Lima, mas é a professora Eunice Vasconcelos que marca esse período. Entre 1937, aos 16 anos, até 1942, aos 21, estudou no Colégio Oswaldo Cruz, em Recife, de propriedade de Aluízio Pessoa de Araújo, pai de Nita Freire. Foi nesse lugar que o jovem Paulo se encontrou como professor e onde conquistou as primeiras oportunidades de lecionar. 

Em 1943, entrou na Faculdade de Direito do Recife, formando-se em 1947, mas abandonou a profissão no primeiro caso. Ainda em 1947, é convidado para o Serviço Social da Indústria (SESI), no qual trabalhou por longos anos. No final de 1950, testa seu método de alfabetização de adultos pela primeira vez, mas vai implantá-lo mesmo em 1963, na ação que é comumente chamada de As 40 horas de Angicos, aqui no RN. 

Experiência em Angicos – Foto: Instituto Paulo Freire

Essa ação, mobilizada pelo então secretário de Educação do Estado, Calazans Fernandes, no governo Aluízio Alves, contou com a participação dos estudantes da Universidade do Rio Grande do Norte, que, após ser federalizada em 18 de dezembro de 1960, passa a se chamar UFRN. No grupo de coordenadores dos Círculos de Cultura organizados em Angicos, havia estudantes de Direito, Filosofia, Odontologia e Farmácia. O coordenador era o advogado e ex-secretário de Educação do RN, Marcos Guerra, e contava com apoio de Carlos Lyra, Pedro Cavalcanti, Rosali Liberato, Valdenice Lima, Valquíria Félix e outros. Muitos colaboraram como voluntários, entre os quais estava a depois médica Maria Laly Carneiro. 

Em 40 dias, a equipe sob os cuidados de Paulo Freire mobilizou a alfabetização de 300 pessoas em Angicos e outras milhares em Mossoró, Caicó e Natal. A proposta repercutiu internacionalmente, atraindo a presença de correspondentes dos principais jornais do mundo. O encerramento em Angicos contou com a participação do presidente da república João Goulart, que organizou com Freire um grande movimento de alfabetização nacional, que não se concretizou. 

Com a instalação da Ditadura Militar, Freire se exilou na Bolívia, depois no Chile e, em seguida, na Áustria. Só conseguiu voltar ao Brasil em 1980. Em 1989, assumiu por dois anos a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, no governo de Luiza Erundina, no qual implantou o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), depois transformado em Educação de Jovens e Adultos (EJA). 

Aluno de Angicos escreve uma das palavras geradoras – Foto: IPF

Paulo Freire começou a contribuir com o pensamento acadêmico em 1959, quando publicou sua tese Educação e atualidade brasileira. Seu primeiro livro, Educação como prática da liberdade, foi publicado em 1967, depois publicou Extensão ou educação? — Rio de Janeiro (1971) — e então seu livro gerador: Pedagogia do oprimido (1974). Publica ainda outros quatro trabalhos e entra em um hiato após a publicação de A importância do ato de ler em três artigos que se completam (1982), pois precisava cuidar de sua primeira esposa. 

Ele foi casado com a educadora Elza Freire por 42 anos, até a sua morte em 1986. Ela teve cinco filhos: Madalena, Cristina, Fátima, Joaquim e Lutgardes. Depois disso, só volta a publicar em 1991, quando sai A educação na cidade, já casado com a professora Nita Freire, que tinha sido sua orientanda no doutorado. Os dois estavam viúvos quando se casaram em 1988. Em 1992, publica Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido e outros quatro trabalhos, encerrando com Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa (1996), embora nunca tenha parado de produzir, pensar e escrever, o que se materializa em diversas obras póstumas organizadas por Nita. 

Paulo Freire morreu dormindo na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, às 6h30 da manhã do dia 2 de maio de 1997, aos 75 anos, vítima de infarto. Por meio da proposta da deputada federal Luiza Erundina, a Câmara e o Senado aprovaram por unanimidade e a presidenta Dilma Rousseff sancionou, no dia 13 de abril de 2012, a Lei 12.612, que institui Paulo Freire patrono da educação brasileira.

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