Foto: Reprodução/Facebook
Por Gustavo Ribeiro, especial para a Gazeta do Povo
A política no Brasil sempre foi marcada pela presença de famílias tradicionais, que ditam as cartas no cenário político local. No Nordeste não é diferente: cada estado tem suas oligarquias e grupos que, eleição após eleição, tentam manter a influência que exercem sobre o jogo de forças nas principais cidades. E é exatamente isso que está em jogo nas disputas de segundo turno em algumas capitais da região.
Em Fortaleza, o pleito deste ano é fundamental para os irmãos Ferreira Gomes. Consolidado como a principal força política da cidade e do estado do Ceará desde 2006, o grupo liderado por Cid e Ciro Gomes tenta emplacar Sarto (PDT) como sucessor de Roberto Claudio (PDT) para manter a posição hegemônica na capital cearense.
Deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Sarto foi a via encontrada pelos Ferreira Gomes para o pleito de 2020. E, apesar de patinar na largada da campanha, o candidato dos irmãos fechou o primeiro turno na liderança, com 35,72% dos votos válidos – o adversário no segundo turno é Capitão Wagner (Pros), que somou 33,32%.
A situação de Sarto é aparentemente tranquila. Segundo pesquisa Ibope, divulgada na última segunda-feira (23), ele tem 60% das intenções de votos válidos, contra 40% do concorrente – veja as informações da metodologia da pesquisa abaixo.
Fazer o sucessor em Fortaleza garante, ao menos, mais quatro anos de influência na capital, e ajuda a preparar o terreno para o próximo pleito, que vai eleger um novo governador para o Ceará. Camilo Santana (PT), atual mandatário no estado e aliado dos Ferreira Gomes, não poderá concorrer à reeleição e, assim, abre espaço para um novo nome – que pode ser Roberto Claudio, que deixa a prefeitura da capital cearense com bons índices de aprovação.
Os Arraes medem forças no Recife
No Recife, a disputa está parelha. De um lado João Campos (PSB) e de outro Marília Arraes (PT), primos em segundo grau, e que carregam o legado do ex-governador de Pernambuco e uma das maiores figuras políticas do Nordeste, Miguel Arraes. João é bisneto dele; Marília, neta.
O embate está em família, mas uma família já despedaçada. O sobrenome Arraes que Marília ainda leva não tem mais tanta influência como antes – Miguel Arraes morreu em 2005. Por outro lado, o sobrenome Campos tem muito a perder caso João não seja eleito. Ele é filho de Eduardo Campos, neto de Arraes e ex-governador do estado que morreu em um acidente aéreo durante a campanha presidencial em 2014. E é esse ramo da família que tem dominado o cenário político na capital, inclusive com o atual prefeito Geraldo Júlio (PSB), que está em seu segundo mandato.
A sucessão é importante também pensando em 2022, quando acaba o mandato de Paulo Câmara (PBS). Estar no comando da prefeitura de Recife daria à família Campos, liderada por João e pela avó dele Ana Arraes, uma boa possibilidade de também fazer um sucessor no governo do estado.
A eleição na capital pernambucana está indefinida. João Campos e Marília Arraes estão empatados tecnicamente com 51% e 49% dos votos válidos, respectivamente, segundo levantamento do Ibope divulgado na quarta-feira (25) – a margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais.
Calheiros e Dino tentam consolidar influência
O pleito em Maceió, por sua vez, tem um peso estratégico para a família Calheiros, do senador Renan Calheiros (MDB). Além de contar com o governo de Alagoas na figura de Renan Filho (MDB), o grupo pretende assentar de vez a presença na capital do estado.
O atual prefeito Rui Palmeira (sem partido) está ligado aos Calheiros, mesmo que mais recentemente. Ele não é, porém, um político do MDB, como gostaria o senador. Por isso, uma vitória de Alfredo Gaspar (MDB) sobre João Henrique Caldas (PSB) deixaria Maceió e Alagoas com o MDB e, mais especificamente, com os Calheiros.
Esse movimento, porém, vai depender das urnas. No primeiro turno, Alfredo Gaspar saiu na frente de JHC, com 28,87% contra 28,56% dos votos válidos, respectivamente. Para a disputa do próximo domingo (29), as pesquisas deixam o cenário indefinido.
Segundo levantamento do Ibope de segunda-feira (23), JHC está numericamente à frente de Alfredo Gaspar: 53% contra 47% das intenções de votos válidos. Pela margem de erro de 4 pontos percentuais, eles estão empatados tecnicamente.
Mais ao Norte, em São Luís, a família Sarney não conseguiu emplacar candidato próprio. O neto do ex-presidente José Sarney, Adriano (PV), chegou a registrar a candidatura, mas logo renunciou à disputa. O desempenho dele nas primeiras pesquisas eleitorais mostraram que ele não conseguiria ser competitivo.
Dessa forma, a disputa na capital maranhense girou ao redor do governador Flávio Dino (PCdoB), que foi um dos responsáveis por reduzir a influência da família Sarney. Em 2018, Dino venceu no primeiro turno, disputando com Roseana Sarney. Agora, na eleição municipal, se posicionou a favor de Duarte (Republicanos). O apoio, porém, rachou a base do PCdoB, e parte do grupo foi para o lado de Eduardo Braide (Podemos).
Ter um prefeito com a própria chancela é fundamental para Dino consolidar a força política no estado. O atual prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Júnior (PDT), foi apoiado por Dino – e assim o governador espera continuar, dessa vez com Duarte.
Pesquisa Ibope, entretanto, aponta vitória de Braide na capital do Maranhão. Segundo o levantamento do último dia 20 de novembro, o candidato do Podemos tem 54% das intenções de votos válidos, contra 46% de Duarte.
Comentários
Postar um comentário